Páginas

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Tempo

Quanto tempo demoramos para esquecer ou superar uma grande tragédia em nossas vidas? Me pergunto isso a cada dia que choro e sofro. Já escrevi aqui sobre o acidente do Gustavo. Não duvido que a grande tragédia faz parte da vida dele mas, como não fazer parte da minha, que estive ali, forte e segura todo o tempo? Quando alguém vai perceber que eu não superei o que aconteceu e, muito pior, me sinto a verdadeira culpada por tudo.
Ninguém perguntou até hoje como estou, se estou bem, se preciso de ajuda. A única coisa que ouvi é que preciso ser forte pra dar força pra ele. Tudo bem. Isso eu sei. E o que mais? Quando o pacote com forças pra mim vai chegar? O correio tá muito atrasado...
A grande verdade é que, se eu não existisse na vida dele, se não fosse o meu aniversário na semana do acidente, talvez isso não teria acontecido. Como não me sentir culpada?? Sonho quase sempre com o que aconteceu. E nem preciso dormir pra isso.
Como esquecer daquela porta do centro cirúrgico? Do médico que tem uma pedra de gelo no lugar do coração e que está acostumado a dar as notícias pós-operatórias às famílias como se ensinasse uma receita de bolo. Da filha da mãe da anestesista que ao me ver desolada, sentada no corredor, teve coragem de falar absurdos, de como ele ia ter grandes vantagens por ter se tornado um deficiente. Vantagens pra quem?
Como esquecer daquele quarto aonde fiquei uma semana sem sair, sem conseguir dormir direito?
Não. Eu não sou forte como pensam.
Eu sou uma pessoa normal, cuja vida parou no dia 17 de agosto de 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário