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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

17 de agosto de 2010

Posso dividir minha vida em antes e depois de 17 de agosto de 2010. E, sinceramente, espero ser muito mais feliz a partir dessa segunda metade.
17 de agosto, terça-feira, faltavam dois dias para o meu aniversário e eu acordei pensando que seria apenas mais um dia de minha pacata vida. Mero engano.
Pouco depois do almoço meu telefone toca e vejo que que era meu amor ligando. "Meu amor" é como está salvo o número do nextel do meu marido no meu telefone. Atendi como normalmente atendo, no entanto, não obtive a resposta de sempre. O "ooooooooi" prolongado que sempre escuto quando ele me liga. Era o primo dele.
Gustavo estava no hospital. Sofrera um acidente no trabalho.
Como assim? Quem deixou? Com que direito a minha vida vira de cabeça para baixo dois dias antes do meu aniversário? Aonde eu estava que não pude fazer nada?
Fui desesperada ao seu encontro. Cada vez que falava com alguém no telefone só piorava mais ainda o meu estado. Nem três meses de casados e a possibilidade de ficar sem o meu marido crescia dentro de mim a cada informação desencontrada que eu recebia. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Quer saber? Acho que ainda não acredito.
Chegando no hospital vi nos olhos da tia dele e do amigo que trabalhava junto, que era grave, muito grave o que tinha acontecido. Mas Gustavo estava no centro cirúrgico. E eu não tinha notícia. Apenas segurava seu telefone e sua aliança que tinham me sido entregues quando cheguei.
É incrível como ninguém que trabalha em um hospital se comova com nada, nem com o desespero de uma esposa aflita. Devem ver várias esposas aflitas todos os dias. Não sei...
Após horas de aflição, de familiares e amigos chegando, o médico aparece na porta do centro cirúrgico e diz exatamente o que aconteceu e como o resultado da cirurgia.
Gustavo trabalhava em uma indústria de plástico, operando uma máquina injetora. A máquina estava com mal contato e fechou sozinha, esmagando sua mão esquerda. Resultado: perdeu três dedos inteiros, parte do dedo indicador e parte da palma da mão. E a notícia me foi dada assim: sem nenhum preparo. Escrever isso ainda me soa estranho. Pra mim, ainda vejo a aliança ali, na sua mão, no seu dedo, que foi colocada por mim no dia do casamento com tanto amor.
Gustavo saiu do centro cirúrgico uns 40 minutos depois, acordado e chorando. Chorando muito mais ao me ver. Eu eu só queria abraçá-lo, confortá-lo, levá-lo pra casa.
Na verdade, eu só desejava que tudo aquilo fosse um pesadelo e eu fosse acordar a qualquer momento.
Mas isso não aconteceu. Eu não estava dormindo. Aquilo era real, era a minha vida, apesar de não a estar reconhecendo.

I´m back!

De volta ao blog. Descobri que posso atualizar do trabalho. Que maravilha.